Bosco Monte*
"O Brasil e a África estão unidos para o futuro". Com esta frase o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saudou no último sábado (03) os líderes da Comunidade Econômica dos Estados Oeste Africano (CEDEAO ou ECOWAS), reunidos na Ilha do Sal,no arquipélago de Cabo Verde.
A CEDEAO é um grupo regional formado por quinze países, que desde a sua instalação em 1975, busca a integração econômica em todos os âmbitos da atividade econômica, em particular, indústria, transporte, telecomunicações e principalmente as questões financeiras.
Esta é a última viagem que o presidente brasileiro faz ao continente africano. Além de Cabo Verde, o giro inclui a Guiné Equatorial, Quênia, Tanzânia, Zâmbia e, finalmente, a África do Sul, onde Lula vai assistir a final do Mundial em 11 de julho.
Durante a reunião, diversos assuntos de interesse dos países africanos foram tratados, principalmente aqueles relacionados aos direitos humanos, o combate ao tráfico de drogas e armas e a corrupção.
Numa declaração conjunta, os líderes da CEDEAO lamentaram a falta de progresso na luta contra a impunidade na Guiné-Bissau, um ponto de distribuição de drogas da América Latina para a Europa. Além disso, pediram ao presidente guineense Malam Bacai Sanha, que estava presente na reunião, para permitir que os esforços internacionais para a solução dos conflitos político-militares sejam conduzidos pelo governo brasileiro.
Com o mesmo tom de desespero, o Presidente nigeriano, Goodluck Jonathan solicitou a ajuda do Brasil para combater o tráfico de drogas e armas na África Ocidental.
Por outro lado, o Itamaraty agiu rapidamente, através do Ministro Celso Amorim para explicar os motivos dos interesses do Brasil em dialogar de "forma amistosa" com governos ditatoriais que não respeitam à democracia e os direitos humanos, como é o caso do presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, que durante 30 anos está à frente do governo.
Segundo Amorim, o Brasil tem interesses em conversar com quaisquer países que possam abrir novos mercados para as empresas brasileiras. Não é toa que um grupo de 30 empresários brasileiros acompanham a comitiva presidencial durante esta viagem de Lula. Entre os interesses brasileiros estão os mercados da construção, o setor elétrico, a indústria básica. Já no quesito transporte, o governo equatoguineense tem mantido estreitos contatos com o Brasil e com a China objetivando a construção de uma linha ferroviária.
Na condição de bom vendedor dos produtos brasileiros no exterior, Lula declarou que o Brasil pretende negociar com os países africanos a adoção no continente de um sistema de televisão digital desenvolvido com tecnologia japonesa e brasileira. As primeiras negociações já foram estabelecidas para a escolha do modelo nipo-brasileiro em detrimento da versão européia.
Parece que os mercados estão se abrindo.
*João Bosco Monte é doutor em educação e professor do curso de Comércio Exterior da Universidade de Fortaleza (Unifor). Participa de grupos de pesquisa como o Núcleo de Estudos Internacionais (NEI) e Democracia e Globalização, pela Universidade Estadual do Ceará (Uece).João Bosco também é professor de pós-graduação em Direito Internacional na Unifor e do mestrado em políticas públicas da Uece. Sua área de pesquisa é relações internacionais.
Fonte: http://opovo.uol.com.br/app/colunas/mapa-mundi/2010/07/06/int_mapamundi,2017360/o-brasil-busca-a-abertura-de-novos-mercados.shtml - em 06/07/2010 10:40