sábado, 30 de outubro de 2010

Sair do lugar cristalizado

Alexandre Aragão

Caros jovens amigos e amigas,

Continuando nossa conversa sobre estas eleições, estamos percebendo que não se pode fazer política sem ler a história passada e presente, para buscar construir a história futura. E como vimos, o ideal democrático alicerça-se em tres princípios básicos: liberdade, igualdade e fraternidade. Não são princípios abstratos, devem ser construídos histórica e concretamente. Ou seja, a liberdade deve ser para todos e não para alguns; as condições de igualdade devem ser distribuídas entre todos e não entre alguns.

Como atividade comprometida com o bem comum, alicerçada na história concreta dos indivíduos e povos, cabe à política corrigir as distorções ocorridas ao longo da história na aplicação desses princípios para que os povos tenham uma democracia real e universal numa determinada nação, e não uma democracia abstrata que legitime a desigualdade estrutural entre cidadãos, como denunciava Celso Furtado com o que ocorria entre nós.

É esse compromisso ético com a nossa história brasileira concreta, e não abstrata, que nos permitiu uma nova compreensão da política e do novo rumo a seguir: revisadas as teses liberais que levaram o Brasil ao arrocho salarial, ao desemprego, ao desmantelamento do Estado e ao fundo do poço de nossas reservas cambiais, a sociedade brasileira entendeu que o Estado tinha realmente um papel fundamental na correção das distorções históricas de desigualdade do Brasil. Para isso um novo projeto político precisava alçar o poder para implantar um novo modelo de agir político.

Portanto, tratou-se de uma nova postura que nos remeteu para a construção de uma nova cultura política. Cada um de nós, pessoalmente e em nossos grupos, foi chamado, e continua sendo constantemente, a rever-se, recompreender-se, resignificar-se politicamente, procurando sair do lugar cristalizado onde eventualmente possamos nos encontrar, para irmos ao encontro da novidade que o Brasil é historicamente convocado a assumir.

Essa nova cultura que está nascendo é o amadurecimento da cidadania, da ação cidadã, da dinâmica dos movimentos sociais.

Como lembra Wampler, a democracia participativa que emerge no Brasil pode ser conceituada como uma escola na qual os cidadãos adquirem uma compreensão nova sobre a política. A participação dos cidadãos comuns nas decisões cotidianas de seus governos é um momento ímpar, um divisor de águas na política brasileira, mesmo quando um dos candidatos à presidência se mostra explicitamente avesso aos movimentos sociais ao condenar preconceituosamente o trabalho de um movimento social.

Ao condenar o MST, Serra condena a independência dos movimentos sociais em geral, numa evidente contradição de sua dita proposta de "união nacional", união que já aprioristicamente exclui setores organizados da sociedade civil. Para Serra, o MST é caso de polícia. Hoje é o MST, amanhã que outro movimento social seria excluido por Serra? Os professores, por exemplo, que foram tratados em seu governo estadual com cacetetes?

Diferentemente, para Dilma, o MST (e todos os movimentos sociais) é caso de política social e diálogo político, de participação. Com ela temos um indicativo de que o processo de democracia participativa pode avançar.

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