Complexidade das alianças partidárias!
Josênio Parente
O Partido foi sempre o principal instrumento de representação política das diversidades inerentes aos Estados nacionais
A eleição está próxima! Nos seus preparativos, chamam à atenção novas alianças partidárias, contrariando as tradicionais. Com elas, os fiéis militantes sentem um misto de incerteza e decepção. Mas a coerência dessas alianças se explica na mudança de paradigmas na política brasileira.
Na guerra fria, a história acabaria com a vitória do capitalismo ou do socialismo. Os valores em jogo, a liberdade e a igualdade, só são revolucionários dentro do contexto de cidadania e diversidade da sociedade burguesa. O mercado venceu a primeira fase construindo nacionalidades e os países desenvolvidos já se organizam em blocos regionais para nova batalha.
O Partido foi sempre o principal instrumento de representação política das diversidades inerentes aos Estados nacionais. Partidos não teriam sentido em sociedade de pensamento único. A migração, contudo, trouxe valores novos aos países desenvolvidos. No século XX, os ricos eram a sua vitrine. A direita dos emergentes defendia os seus ricos contra os de países de capitalismo mais avançados. No século XXI, a direita dos mais desenvolvidos luta por seus 'pobres' contra os de emergentes e a esquerda, que defendia a burguesia nacional enfatizando seus trabalhadores, agora luta pelos espaços dos migrantes.
A diversidade cultural se internacionalizou e afetou a dinâmica dos partidos políticos. Assim, enquanto os países desenvolvidos estão em crise com seus partidos afetados pela diversidade cultural, o Brasil muda seu paradigma, mas ainda está envolvido em aperfeiçoar sua representação política. Ele se envolve em dois movimentos: enfrenta o mundo globalizado e a transição para o Estado laico.
O Brasil sai da desigualdade natural no patrimonialino para uma sociedade mais republicana, onde o sentimento de igualdade se fortalece. Enquanto ainda consolida sua representação política numa lógica da inacabada revolução burguesa, ele enfrenta o papel de país emergente. Os partidos que, no passado, não precisavam representar a sociedade civil, por esta ser protegida pelo Estado, buscam agora ocupar os espaços ideológicos disponíveis.
O modelo que orienta essa luta civilizada é o europeu, com cinco tendências básicas que se distribuem entre direita e esquerda. PT e PSDB se espremem para ocupar o mesmo espaço, o de centro-esquerda. O DEM é empurrado para a direita, saindo do marasmo clientelista que ainda alimenta o PMDB. Os diversos partidos da esquerda tradicional, como PC do B, PSB, PDT, entre outros, buscam a sobrevivência política na esquerda. O PSOL se associa à esquerda revolucionária desgarrada do PT, como o PSTU, e busca ocupar o espaço mais à esquerda.
É, pois, um jogo novo de ocupação de espaço e é no voto que eles serão definidos. A sobrevivência dos partidos, neste momento de definição ideológica, resulta de sua real representação. Daí a complexidade das novas alianças políticas. O espetáculo apenas começou!
Finalizo homenageando Maria D'Alva Kinzo, minha orientadora na USP, pelo seu falecimento na semana passada, reconhecendo seu papel de educadora dedicada.
Josênio Parente - Cientista Político e Professor da Uece.
Publicado no site do Jornal O POVO em:01/Julho/2008
fonte: http://www.opovo.com.br/opovo/opiniao/800781.html
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