sábado, 22 de maio de 2010

PMDB - hegemônico?

Josênio Parente

Não é necessária muita perspicácia para perceber que a campanha para 2010 já começou. Os noticiários dos telejornais vêm como que acompanhados do retrato 3x4 de candidato. As eleições para presidente da Câmara e do Senado acompanham esta lógica. A vitória do PMDB nas duas casas do povo, com mais de 60% dos votos, é realmente um feito extraordinário. A última vez aconteceu a 16 anos, no biênio 1991-1992, com Mauro Benevides e Ibsen Pinheiro. Será que o PMDB ganhou o status de um partido hegemônico?

PMDB e DEM, os dois maiores partidos dentre os tradicionais, continuam representando a tradição política brasileira que teima em sobreviver com o Brasil moderno fruto da globalização. O problema, deste modo, é que não foi vitória de um partido com direção, proposta e programa.

Enquanto DEM encolheu bastante na era Lula, PMDB, uma aglomeração amorfa de caciques e interesses regionais, cresceu em nome da governabilidade. Nestas condições ele é que teria mais cacife para o feito que realizou. Não foi, portanto, um partido que desponta no horizonte sucessório, embora Aécio possa realizar essa façanha, mas um partido que representa a resistência à mudança da sociedade brasileira.

Venceu na Câmara o PMDB serrista e no Senado o lulista. Essa realidade reforça não apenas a fragilidade de nossos partidos políticos, fisiológicos por não representarem a diversidade do espetro ideológico da sociedade civil ainda não idealmente organizada, mas mostra também que a campanha eleitoral de 2010 será aguerrida. Setores da sociedade civil organizada já participam ativamente do processo, como o empresariado paulista e os já tradicionais, como o MST e as centrais sindicais.

Basta observar como a crise chega ao Brasil dentro desse caldeirão. O carisma de Lula já faz vácuo e puxa a Dilma Rousseff para o centro do debate sucessório. O pmdbista Geddel Vieira, cotado para ser seu vice, também articulará o partido para seguir esse caminho. O PMDB fica, então, como a dama que todos sonham em seduzir.

Serra e Aécio apostam na sua infidelidade. O PMDB, com presença forte em todo Brasil, se unido, poderia fazer contraponto ao carisma Lulista. Se Serra espera ser amante, Aécio receia da sua fidelidade e não arrisca um embate frontal com Serra.

O PMDB, contudo, fez uma aventura extraordinária ao assumir a presidência da Câmara e do Senado. É o sonho de todo partido que o utilizaria como degrau para a presidência da República. Sarney e Temer estarão no controle de um orçamento conjunto de quase R$ 6 bilhões anuais e de um exército de mais de 21 mil funcionários. PMDB, contudo, não tem forças para chegar lá. Continuará a ser degrau para os partidos mais modernos, comprometidos com os atores que surgiram da modernização da sociedade brasileira que lutam para serem os administradores do Brasil nessa boa fase que atravessa na sua economia, apesar do fantasma da crise.

Josênio Parente - Cientista Político. Professor da Uece.

Publicado no site do Jornal O POVO em 10/02/2009

Fonte: http://opovo.uol.com.br/opovo/opiniao/854551.html

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