quarta-feira, 19 de maio de 2010

Democracia de massa

Josênio Parente

É a segunda vez, em meio século, que as massas chegam à política na América latina

Que acontece na América Latina? No Chile, uma mulher foi eleita pela primeira vez presidente da República e, logo em seguida, o fato se repete na Argentina. No Peru é eleito um representante indígena e na Venezuela um presidente destrona as elites tradicionais e lidera uma cruzada de integração focada num socialismo bolivariano. O que realmente está acontecendo na América latina? Esta onda traz um desafio para os intelectuais e políticos da região. E este é o sentido desse seminário "Dos Andes aos Pampas: Inclusão e Cenários na América Latina", que reunirá pessoas que estão preocupadas com o nosso destino.

No Brasil, um presidente, de base sindical, atinge uma popularidade inédita, no quinto ano de governo. O processo de inclusão social é decisivo e parece ser a senha para entender essa transformação no capitalismo e na democratização da América Latina. Sua integração ao mundo global traz novidades e novos grupos de pesquisas, para entender essa realidade, são criados. No Ceará, um grupo no curso de história da Universidade Federal do Ceará, outro no Observatório das Nacionalidades, e ainda o RUPAL procuram enfrentar esse desafio. O mestrado de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará, que promove esse evento de nível internacional, vem somar esforços com a comunidade acadêmica para amadurecer essa reflexão.

É a segunda vez, em meio século, que as massas chegam à política na América latina. Foram dois momentos com significados diversos. A primeira vez, na década de 1960, era uma resposta ao fenômeno de urbanização acelerada fruto de um processo de desenvolvimento econômico planejado. O ânimo das massas foi contido pelo populismo e por uma onda posterior de governos autoritários que temiam o socialismo. A lógica estava na construção e fortalecimento dos Estados nacionais sob o impacto da guerra fria e a América Latina tinha a tutela dos Estados Unidos, a principal potência ocidental.

O segundo momento, no início do século XXI, as massas chegam novamente à política fruto de um processo de inclusão social como reflexo da globalização dos mercados. O ânimo das massas pelos valores republicanos forma nova condição para uma radicalização democrática que abala a dinâmica tradicional da política. A América Latina, afetada pelos contextos das relações internacionais desde sua origem, ultrapassa a transição de um mundo bipolar para um multipolar com esta fase de democracias de massas. Uma das conseqüências desse processo é a constituição de novas forças em jogo, abalando o poder das tradicionais elites políticas por outras mais identificadas com a modernidade. Enquanto no primeiro momento as massas não reivindicaram representação política, o mesmo não acontece nessa segunda fase. Esta saga culmina na democracia de massa.

JOSÊNIO PARENTE - Cientista Político e professor da Uece.

Publicado no site do Jornal O POVO em  12/04/2008
fonte:http://www.opovo.com.br/opovo/opiniao/780370.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário