terça-feira, 4 de janeiro de 2011

As esquerdas e o partido político


Josênio Parente

Na democracia brasileira predomina a delegação e não a representação. Confia-se nas pessoas e não nos partidos. Nossos atores modernos foram tutelados e protegidos pelo Estado: a burguesia com a reserva de mercado e o proletariado com a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). A cidadania precisava pouco da representação de seus interesses no Estado.

Nos últimos 25 anos, a sociedade brasileira ficou mais liberal e competitiva, com nova cidadania. Ainda resolvemos nossos dilemas políticos com as coalizões, nem sempre de forma partidária, preservando o modelo presidencialista do “toma lá, dá cá” típica da democracia delegativa.

Caminhamos, no entanto, para a representação política. Mas com qual modelo?

Herdamos do federativo norte-americano a representação dos Estados. Os senadores brasileiros, contudo, vão além e eles concorrem com os deputados a representação da sociedade civil. Há distorção no processo. Os norte-americanos conservaram dois partidos para sanar o medo iluminista de que a maioria domine a minoria e vice-versa. Herdamos também o espírito da luta de classe das revoluções do século XIX, a francesa e a industrial, ao eleger deputados. Nesse modelo europeu, eles necessitam de quatro a seis partidos, da estrema direita à esquerda, para representarem a diversidade da sociedade civil. Herdamos também o espírito corporativista do fascismo italiano, dentro da lógica da solidariedade durkheiniana.

O desafio agora é encontrar um caminho brasileiro para a grande fragmentação partidária com perspectiva de fortalecimento dos partidos. O modelo não seria o norte-americano, nem o europeu, embora nos aproximemos deste. Estamos descobrindo o nosso caminho.

Será que as coalizões partidárias substituiriam a necessidades de partidos e nos levariam para novo presidencialismo, recuperando a representação política? Se não, haverá lugar para tantos partidos do mesmo espectro ideológico no seio da sociedade civil? O I Seminário de Partidos Políticos do Centro de Humanidades, a ser realizado na Universidade Estadual do Ceará (Uece) na próxima semana, pretende ouvir os partidos, inicialmente a esquerda, sobre o seu lugar na representação política da sociedade civil.

A dificuldade é classificar os partidos. Há arbitrariedade quando quase todos se identificam como de esquerda. Vários deles poderão se sentir de fora, como o PTB, o PL, o PMDB e outros. Pretende-se ouvir os do mesmo campo de poder para saber sobre seu lugar no spectrum político.

Como conviverão civilizadamente na diversidade, criando fidelidades e militâncias. Enfim, qual é o espaço da esquerda nesse novo quadro partidário que se vislumbra, com partidos políticos fortes? Como garantir a representação dos setores da sociedade civil que buscam a esquerda para representá-los: nos partidos ou nas coligações? É o desafio que os partidos não podem fugir.

Josênio Parente
josenioparente@gmail.com
Prof. da Uece  e  coordenador do Grupo de Pesquisa do CNPQ: Democracia e Globalização

Nenhum comentário:

Postar um comentário