terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Democracia e Violência: os contrastes na América Latina


João Bosco Monte

Na semana passada o Latinobarómetro (LB) divulgou seu relatório anual sobre as opiniões, atitudes e valores dos cidadãos da América Latina. Mas qual é a importância desse documento?

O Latinobarómetro é uma organização chilena sem fins lucrativos que desde 1995 vem levando a cabo na América Latina enquetes regulares de opinião pública nos 18 países da América Latina. Após a aplicação de 20,204 entrevistas, as conclusões preliminares do relatório são as seguintes: Maior apoio à democracia, à empresa privada e à economia de mercado, estabilidade política, otimismo e satisfação com a democracia. A delinquência aparece como o principal problema que preocupa os latino-americanos. Segundo Marta Lagos, diretora do Latinobarómetro, é bastante relevante o fato de que o apoio à democracia na América Latina cresceu 61%. A executiva afirma ainda que os relatórios passados indicam que a democracia na região experimenta um crescimento, não de maneira abrupta senão mediante aumentos graduais ano após ano.

De fato, desde que o LB começou a medir este importante indicador, esta é a primeira vez que se produz um aumento sustentado durante quatro anos consecutivos. Em matéria de apoio à democracia, a Venezuela (84%), Uruguai (75%) e Costa Rica (72%) são os três países com os índices de apoio mais altos. A Argentina experimentou um crescimento importante: 36% (em 2009) a 49% (em 2010). No entanto, apenas a metade dos entrevistados no México e Brasil, os dois países mais povoados da região, são democratas convictos, o que produz uma baixa da média regional. Por outro lado, a resistência da região à crise financeira e a rápida recuperação observada durante 2010 veio acompanhada, também, de um importante nível de otimismo e de aumento do apoio à empresa privada e à economia de mercado.

Naturalmente, o nível de otimismo registra também importantes variações entre os países da região. No Brasil, o relatório reforça o exitoso desempenho econômico e a elevada popularidade de seu presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, o que reflete uma sensação de progresso que é compartilhada amplamente pela maioria dos entrevistados.
O otimismo, entretanto, é mais modesto no México e América Central, onde a recessão foi mais severa, a recuperação é mais lenta e onde a violência e a delinquência pioraram significativamente.

O relatório demonstra ainda que a aprovação dos governos vem aumentando de maneira sustentada, passando de 36% em 2002 a 56% em 2010. Os presidentes são os grandes ganhadores, já que não só aumenta sua valorização política, senão que conseguem melhorar a percepção da democracia em seus países. Ao todo, há 11 países dos 18 pesquisados, que gozam de uma alta popularidade de governo superior a 50%, encabeçados por Lula com 86% de popularidade.

Os dividendos dessa popularidade foram contabilizados nas eleições presidenciais em 2010. Em três, dos quatro processos eleitorais presidenciais (Laura Chinchilla na Costa Rica, Manuel Santos na Colômbia e Dilma Rousseff no Brasil) os presidentes Arias, Uribe e Lula respectivamente transferiram seu prestigio para seus candidatos. Apenas no Chile, a eleição do presidente Sebastián Piñera trouxe alternância depois de 20 anos de governos consecutivos da “Concertación”.

Mas o relatório é enfático ao apontar que a América Latina tem um dos níveis de violência mais altos do mundo. A região que conta com 8.5% da população mundial, concentra cerca de 30% dos homicídios a nível global. Não é de estranhar, portanto, que preocupa mais aos latino-americanos a delinquência (27%) do que o desemprego (19%).

Que fazer para reduzir o quadro de violência? O relatório não aponta respostas, mas o uso dos métodos coercivos para combater o narcotráfico pode ser uma parte da resposta ao fenômeno, que deve ser complementada com ações de saúde pública, de prevenção no consumo de drogas. Além disso, deve outorgar-se uma dimensão política que envolva maiores capacidades do Estado e da sociedade nesta luta.

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